Mas que filho da puta era aquele cachorro! O dia deixou de ser aquela manhã maravilhosa, ensolarada. Prontamente esqueci a melodia que assobiava - e era bonita. A moça também bonita passou pela mesma calçada. Lançou pra mim nem meio olhar. Caso lançasse, esbarraria em suor na testa, espinhas bem distribuídas e uma barba mal feita.
Que cachorro escroto! A tarde caiu lenta, quente, pesada. Sem ventos daqueles soprados no rosto por Deus. Chuva, essa sim, poderia cair: ou temporal, de destruir cidades, ou chuvinha fina e contínua, chata, sem graça. Tarde sem solução.
Nem adiantou o sol ir embora e levar com ele a assustadora clareza dos objetos, das pessoas, dos bichos. A lua chegou feia, carcomida. Pizza até chegou, mas fria. Sem torresmo. Dar uma volta no quarteirão aliviaria, não fosse o óbvio, o assalto, o revólver. Dinheiro não havia, dei adeus ao celular. Se não fosse a porra do vira-lata...
Dizem que a polícia de Pequim, em certo inverno chinês, diante de tanta fodelança de cachorros de rua, adotou uma tática justa. Cada policial foi municiado de um pedaço de pau, e incumbido de matar cães. Quem houver de duvidar, que procure as fotos nas redações dos jornais: chineses raivosos com paus em riste.
Estava muito bom aquele dia. No entanto, ao meio-dia, o cachorro cismou de latir.
Postado por Cadu Marconi
Postado por Cadu Marconi
2 comentários:
"chineses raivosos com paus em riste" é de uma beleza horripilante.
Cadu, tu é o cara.
Douglas.
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